segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A impotualidade do amor.


Você está sozinho. Você e a torcida do Flamengo. Em frente a tevê, devora dois pacotes de Doritos enquanto espera o telefone tocar. Bem que podia ser hoje, bem que podia ser agora, um amor novinho em folha.



Trimmm! É sua mãe, quem mais poderia ser? Amor nenhum faz chamadas por telepatia. Amor não atende com hora marcada. Ele pode chegar antes do esperado e encontrar você numa fase galinha, sem disposição para relacionamentos sérios. Ele passa batido e você nem aí. Ou pode chegar tarde demais e encontrar você desiludido da vida, desconfiado, cheio de olheiras. O amor dá meia-volta, volver. Por que o amor nunca chega na hora certa?


Agora, por exemplo, que você está de banho tomado e camisa jeans. Agora que você está empregado, lavou o carro e está com grana para um cinema. Agora que você pintou o apartamento, ganhou um porta-retrato e começou a gostar de jazz. Agora que você está com o coração às moscas e morrendo de frio. O amor aparece quando menos se espera e de onde menos se imagina. Você passa uma festa inteira hipnotizado por alguém que nem lhe enxerga, e mal repara em outro alguém que só tem olhos pra você. Ou então fica arrasado porque não foi pra praia no final de semana. Toda a sua turma está lá, azarando-se uns aos outros. Sentindo-se um ET perdido na cidade grande, você busca refúgio numa locadora de vídeo, sem prever que ali mesmo, na locadora, irá encontrar a pessoa que dará sentido a sua vida. O amor é que nem tesourinha de unhas, nunca está onde a gente pensa.


O jeito é direcionar o radar para norte, sul, leste e oeste. Seu amor pode estar no corredor de um supermercado, pode estar impaciente na fila de um banco, pode estar pechinchando numa livraria, pode estar cantarolando sozinho dentro de um carro. Pode estar aqui mesmo, no computador, dando o maior mole. O amor está em todos os lugares, você que não procura direito.


A primeira lição está dada: o amor é onipresente. Agora a segunda: mas é imprevisível. Jamais espere ouvir "eu te amo" num jantar à luz de velas, no dia dos namorados. Ou receber flores logo após a primeira transa. O amor odeia clichês. Você vai ouvir "eu te amo" numa terça-feira, às quatro da tarde, depois de uma discussão, e as flores vão chegar no dia que você tirar carteira de motorista, depois de aprovado no teste de baliza.

 Idealizar é sofrer. Amar é surpreender.



[Martha Medeiros]




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3 comentários:

  1. ADOREI O TEXTO!
    E é assim mesmo! Eu que sempre esperei o telefone tocar encontrei o amor imprevisivelmente no carnaval em Salvador, onde tinha ido com a intençao de "chutar o balde" me divertir loucamente e soltar as bruxas como dizem! Estava cansada de esperar um amor e já tinha me declarado uma solterona. Ia mergulhar no mundo intelectual e ja tinha feito a minha inscriçao em mais um curso de idioma e desta vez em outro país.
    Bom, como diz o texto o amor é realmente imprevisivel,pois no Carnaval encontrei o meu amor, casamos e hj moro em outro país, nem é o qual tinha me inscrito para fazer um curso, na verdade fica até em outro continente, mas é isso.
    Me reconheci neste texto.
    Excelente quarta-feira.
    Bjks
    Eliete
    http://papeandocomateliete.blogspot.com/
    http://ateliete.blogspot.com/

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  2. Belíssimo !
    Parabéns por sua poesia, cheia de pedacinhos de cores, amores e luz !
    Um abraço,
    Lara

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  3. Nossa que história de amor a sua Eliete!
    Também concordo totalmente com o texto, o amor não segue regras!
    Amo os textos da Martha Medeiros, ela consegue colocar no papel tudo que sentimos.

    Beijos nas duas!!

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Que bom receber você aqui! Grande beijo e volte sempre.

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