terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Eu troco um príncipe encantado por um lobo mau!

 Esperar 100 anos para receber um beijo do príncipe encantado?
Passar 365 dias do ano limpando banheiro para pode ir a um único baile no palácio?  

Comer biscoito com a vovó em vez de dar uns amassos no lobo mau?
Eu proponho a derrubada de alguns sonhos femininos de encarnações passadas. Está mais do que na hora de questionar esses valores antiquados, que só trazem sofrimento e privação, e se divertir com La vida loca da mulher do século XXI. É preciso envenenar a princesa chata que existe dentro de você e resgatar a loba que está doida para devorar aquele gatinho de boné vermelho. 
Alias, quem quer ser uma chata aos cuidados de sete anões (mineiros e cantores) quando pode ser uma gótica fashion como sua madrasta?
Quem quer ser obediente e chegar em casa antes da meia-noite?
Quem gostaria de perder um lindo par de saltos correndo, sem elegância alguma, atrás de uma abóbora ridícula conduzida por um bando de ratos?

 
Que mulher escolheria morrer de medo numa floresta, ainda por cima carregando uma cestinha de comida (que cena!), se pode uivar nas garras de um lobo? (Essa fantasia foi totalmente inspirada em  Wolverine dos X-Men, ou seja, em HUGH JACKMAN.)
Você agüentaria um eterno adolescente irritante que está sempre saltitando para lá e para cá e não consegue se separar de sua amiga, uma tal de sininho – que você suspeita que seja mais que só uma amiga?
Tem idéia de como acordaria mal depois de dormir cem anos rodeada por todos os habitantes de sua aldeia? (Imagine o provável mau hálito ao ser despertada por um primeiro beijo. Lamentável.)
Conseguiríamos, hoje em dia, entender realmente o sacrifício de uma mulher metade peixe, metade musa de uma cidade praiana (à La Búzios), para não magoar um homem que acaba de rejeitá-la para casar com outra?

Já chega de histórias mal-intencionadas! Que cara de pau dos Grimm, de Andersen e Perrault; contos do vigário, isso sim, não de fadas! Nem sapatinhos de cristal, nem pozinhos mágicos, nem espelhos que falam a verdade. Sou mais um supersapato lindo, sexo de verdade e os melhores elixires da juventude eterna. 
O encanto da narrativa não foi capaz de suportar a sobrecarga da realidade, pragmatismo e estresse. Não tem volta. Mesmo que num momento de fraqueza tentássemos fazer o exercício condescente de adaptar o conto de fadas ao nosso tempo, não funcionaria. Não daria certo: nem o conto nem as contas. Pense o que pensar, as carruagens brancas dos contos são cafonas e um cara louro vestido de azul dos pés à cabeça mais ainda. Corte suas tranças, distribua maçãs envenenadas para adormecer a concorrência, fuja com o lobo e tome um bom banho de espuma com ele. Lembre-se: enquantos as princesas dormem, as bruxas voam.

As mulheres estão mudando e isso as transforma em seres ainda mais imprevisíveis do que foi geneticamente estipulado. Inclusive para elas.
Olhe para o mar. Procure pelo barco pirata (Totalmente inspirada no Capitão Jack Sparrow, ou seja, Johnny Depp, ui.) Há milhares de aventuras esperando por você com rudes capitães que hão de amá-la loucamente enquanto estiverem em terra. E milhares de aventuras para viver quando eles retornarem ao mar. Seu capitão terá, em vez de sombra, um papagaio. É sempre mais fácil conquistar o louro,  do que conseguir que Sininho se renda.
Ame-se. Não tenha culpa por se sentir viva!

Quem sabe o que teria feito Cinderela se tivesse tido a opção de viajar. Teria tentado chegar a outra festa, em outro lugar, ganhando algumas horas de tempo? Ou será que Cinderela corria porque estava perdendo o avião? Ou na verdade fugia do príncipe? Os sapatinhos de cristal devem machucar muito e, se quebrarem, mais ainda. Seja onde dor, tente tirar o relógio. Quando tiver fome, coma. Quando tiver sono, durma. Quando não quiser ficar sozinha, procure companhia. Quando desejar sua solidão, não permita que venham atrapalhar. Tanto faz onde você estiver. Você é melhor que Cinderela. Se tiver que correr, faça isso descalça!
Eu fico me perguntando, várias vezes,
 quem gostaria de viver sozinha no alto da torre mais alta da cidade?
Que mulher desejaria viver dependente de um espelho mágico
 que a maltrata psicologicamente?
Não seria melhor adormecer toda noite com um beijo do que,
 de vez em quando, ser despertada por um?
Por que ser Wendy tem que ser pior que ser Peter Pan?

Era uma vez uma história tão estruturada que acabou bagunçando as mentes de milhares de garotas, donas de uma ambição capaz de mover montanhas de açúcar. Uma vontade suficiente para dar as costas ao flautista nas ruas de Hammelin. Uma beleza ao alcance de qualquer espelho de pedras preciosas. As garotas que escolheram ser princesas e acabaram sendo bruxas. As mulheres que acabaram sendo bruxas e jogam feitiços nas princesas. Nem umas, nem outras. Todas e nenhuma.

Nós não estamos nas historinhas. A identificação é cruel. Exigente demais. A frustração de não poder ser tão boa quanto Branca de Neve. O desencanto de não poder ser tão má quanto a madrasta. 
O desespero de não ser tão linda quanto qualquer uma das duas.

Um fim tão distante quanto os reinos da narrativa. 
Uma vida como nos contos já não é uma vida como um papel de fada.

Escreva uma história em que se possa acreditar. Contos sobre mulheres confusas, mulheres comilonas, mulheres incapazes de se apaixonar, mulheres que não sentem nada, mulheres que perdoam traições, mulheres noturnas, desequilibradas, divertidas, saidinhas, mulheres-desastre, mulheres-cataclisma, terremoto, mulheres-furacão, mulheres em guerra.
Selvas de arranha-céus. Festas em castelos. Escadas rolantes no palácio. Sapatilhas de brilhantes. Maçãs de ansiolíticos. Caramelos excitantes. Pedrinhas de chocolate. Dias de não aniversário. Vestidos transparentes. Ressacas de Nunca Mais. Princesas da noite. Bruxas dos escritórios.
Mais uma reunião e vou embora. Mais uma taça de vinho e já vou. NUNCA É MEIA-NOITE E PONTO!"

*Trecho do livro da  Raquel Sánchez Silva, modificado para as minhas necessidades sem medo de ser feliz.*
Ah, a mensagem do livro é clara: 
"SÓ SEREMOS FELIZES NO AMOR QUANDO ABANDONARMOS 
O ARQUETIPO DA PRINCESA E APRENDERMOS A CORRER ATRÁS DE NOSSOS DESEJOS."

Análise dos contos de "fadas"
 

 Ilustração do Sociological Images

TRADUÇÃO:

Sobre a Branca de Neve : “Sua sexualidade nascente é uma ameaça para outra mulher, então ela é morta. Sua única qualidade, beleza física, é o que a salva no final”.


 Sobre Aurora: “Entronada no berço para solidificar uma posição política, ela é morta por uma outra mulher sem nenhum motivo. Seu dono, quer dizer, noivo, a salva com um beijo. Novamente, o sexo é sua única salvação”. 


Sobre Jasmin: “Esta princesa precisa se casar para satisfazer as exigências da lei. Sua relutância causa muita dor de cabeça a seu pai poderoso. Ela é escravizada por um homem poderoso e salva pela esperteza de um moleque de rua”. 


Sobre A Pequena Sereia: “Esta drasticamente muda sua aparência física para tornar-se mais atraente para os homens. O preço é que não pode falar. Sem problemas, ela não tem nada de importante pra dizer mesmo. É salva por um príncipe”. 


Sobre Bela: “Salva a vida de um príncipe. Com sua única qualidade, sua sexualidade”. 


Sobre Cinderela: “Um príncipe a salva de condições de vida terríveis. Ele faz isso não por que ela dá duro, mas porque é linda”.




E agora me diz se dá para acreditar 
naquele papo de "felizes para sempre"? rs




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